1.2.8 Compassos
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Define-se por compasso os vários fragmentos da partitura que correspondem a segmentos de tempo cuja duração é indicada pela fórmula de compasso e que se encontram contidos entre duas barras verticais. Embora a palavra compasso seja usado de um modo generalizado em português, em inglês na Europa a palavra mais usada é «bar» e em Norte-americano é «measure». Podemos afirmar que «bar» seriam as barras verticais que delimitam os compassos e o «measure» o compasso em si, pelo que um termo eventualmente menos ambíguo seria «bar line».
Em todo o caso, na prática os termos são usados indistintamente. Existem inúmeras barras de compasso com inúmeros objetivos diferentes. Todas as barras de compasso, independentemente dos seus símbolos, delimitam os compassos, mas algumas têm funções adicionais. As próximas figuras apresentam as mais comuns:
O exemplo da figura anterior apresenta três barras de compasso diferentes sendo que a barra mais à esquerda é uma barra simples e as outras duas são barras duplas. A barra do exemplo número 1 é uma barra simples e a sua única função é delimitar os compassos. O exemplo número 2 apresenta uma barra dupla cuja função adicional é o de indicar uma mudança de movimento ou o início de uma nova secção numa peça musical. O exemplo 3 apresenta uma barra final, composta por uma barra mais fina à esquerda e uma mais grossa à direita, cujo objetivo é indicar o fim de uma peça musical.
As três barras de compasso do exemplo anterior são denominadas barras de repetição. A barra do exemplo 4 indica que os compassos que se encontram à sua direita devem ser repetidos uma vez, até se encontrar a barra do exemplo 5. Quando a barra do exemplo 5 é alcançada, a peça deve ser repetida desde a barra do exemplo 4, continuando até existirem barras com outras funções. A barra de repetição do exemplo 5 junta num único símbolo as barras dos exemplos 4 e 6.
Os exemplos da figura anterior estendem o conceito de barra de repetição e incluem a indicação de duas casas: a casa 1, que vai desde o compasso número 3 até ao compasso número 4 (inclusive) e a casa 2 que ocupa apenas o compasso número 5. A casa 1 é tocada uma vez aquando a primeira passagem, mas saltada aquando a primeira repetição, que deve saltar do compasso número 2 imediatamente para a casa 2 no 5.º compasso. A peça deverá ser tocada do seguinte modo:
[C, C, C], [G, G, G], [E, E, E], [D, D, D] (repete desde o compasso 2), [G, G, G] (salta a casa 1 para a casa dois), [C, C, C] e termina.
As características referentes ao número de tempos por compasso e à divisão do próprio tempo podem ser confusas. Essa confusão resulta da ambiguidade na terminologia em português: a mesma palavra apresenta múltiplos significados dependo do contexto onde é usada. Para agravar a confusão, não existem ou não são frequentemente usadas palavras específicas para cada conceito, como acontece, por exemplo, com o vocabulário anglo-saxónico. Essa ambiguidade e omissão demonstram ser críticas e são o principal motivo para a dificuldade na compreensão dos conceitos relativos às estruturas rítmicas.
Para apresentar e fazer corresponder o mais corretamente possível os conceitos relativos ao ritmo e ao compasso entre estas duas línguas, sempre que oportuno será incluído vocabulário em português e em inglês.
Quando nos referimos ao compasso como sendo os fragmentos da partitura delimitados por barras verticais onde se encontram as notas, a palavra respetiva é «bar» ou «measure».
Quando nos referimos ao compasso, ou mais concretamente à fórmula de compasso, indicada por exemplo com 4/4, 6/8 ou 9/4, o conceito respetivo é «time signature».
Se nos quisermos referir ao tipo de compasso relativamente à sua estrutura quanto ao número de tempos, aos tempos fortes e fracos e sua respetiva divisão, a palavra correta em inglês é «meter».
Este capítulo encontra-se organizado de modo a que, viajando dos conceitos mais gerais para os mais específicos, o leitor possa entender corretamente os conceitos fundamentais referentes às estruturas rítmicas.
Define-se métrica, ou «meter», ao conjunto de pulsos, ou tempos, ou «beats» (estas três palavras, neste contexto, significam o mesmo), que juntos perfazem um padrão constante de tempos, ou pulsos, fortes e fracos. No discurso mais comum, muitas vezes as palavras «tempo» e «pulso» são usadas indistintamente. Podem ser usados um ou outro termo, desde que se entenda no que consistem relativamente ao contexto em que são usados. Para reduzir a ambiguidade relativamente à palavra «tempo», neste livro será usada muito mais vezes a palavra «pulso».
Os três grupos mais comuns relativamente ao número de pulsos são:
Métrica binária: 2 pulsos, Padrão: Forte (1) Fraco (2)
Métrica ternária: 3 pulsos, Padrão: Forte (1) Fraco (2) Fraco (3)
Métrica quaternária: 4 pulsos, Padrão: Forte (1) Fraco (2) ½ Forte (3) Fraco (4)
Relativamente à divisão do próprio pulso, esta pode ser classificada de duas formas:
Métrica simples divide naturalmente o pulso em duas partes iguais.
Métrica composta divide naturalmente o pulso em três partes iguais.
Deste modo, a métrica exibe dois atributos fundamentais:
Quantos pulsos, ou tempos, existem num compasso: se existirem dois, três ou quatro a métrica será binária, ternária ou quaternária, respetivamente.
Qual a divisão natural de cada pulso: se se dividir o pulso em dois, a métrica é simples, se por três, é composta.
No início da partitura, à direita do símbolo de clave e respetiva armação de clave, deve ser indicada qual a métrica da peça musical. Embora em muitos casos a métrica seja constante ao longo de toda a peça, esta pode ser alterada um qualquer número de vezes e em qualquer momento. A informação relativa à métrica é indicada pela fórmula de compasso, cuja figura é constituída por dois números inteiros dispostos verticalmente.
Um dos erros mais frequentes é assumir que a fórmula de compasso indica sempre quantos pulsos, ou tempos, existem num compasso. Para saber corretamente quantos pulsos existem, é essencial entender a natureza dos números indicados na fórmula de compasso:
Se a métrica for simples, o número inferior indica qual a duração do pulso.
Se a métrica for composta, o número inferior indica qual a duração da divisão do pulso.
Finalmente, na fórmula de compasso o número superior indica a duração total de cada compasso. Esta duração é obtida multiplicando este número pelo valor da duração da nota de referência, duração esta indicada pelo número inferior.
É fácil identificar rapidamente compassos compostos, visto que nestes o número superior é sempre um múltiplo de 3, exceto se for o próprio 3 que, por convenção, se define como sendo um compasso simples. Exemplos: 3/4 e 3/8 são compassos simples, mas aqueles cujos números superiores sejam 6, 9, 12, 15 são compassos compostos. Como são sempre múltiplos de três, em compassos compostos o número de pulsos, ou tempos, por compasso, obtém-se dividindo o número de cima por três.
Em contraste com os compassos compostos, os compassos simples nunca apresentam no número superior múltiplos de 3 (exceto, como já visto, o próprio 3) e, portanto, serão sempre simples os compassos cujo número superior seja 2, 3, 4, 5, 7.
Exemplos de métricas simples:
Fórmula de compasso 4/4:
Número inferior 4: a nota de referência é a semínima.
Número superior 4: a duração total de cada compasso equivale a 4 semínimas.
Como existem 4 semínimas, existem 4 pulsos e, portanto, a métrica é quaternária.
Duração de cada pulso: semínima.
Fórmula de compasso 2/2:
Número inferior 2: a nota de referência é a mínima.
Número superior 2: a duração total de cada compasso equivale a 2 mínimas.
Como existem 2 mínimas, existem 2 pulsos e, portanto, a métrica é binária.
Duração de cada pulso: mínima.
Exemplos de métricas compostas:
Fórmula de compasso 6/8:
Número inferior 8: a duração da divisão de cada pulso é a colcheia.
Número superior 6: a duração total de cada compasso equivale a 6 colcheias.
Como existem 6 colcheias num compasso, existem 2 pulsos (6 ÷ 3 = 2) e, portanto, a métrica é binária.
Duração de cada pulso: se existem 6 colcheias num compasso, e dois pulsos, cada pulso tem a duração de 3 colcheias, que equivale a uma semínima pontuada.
Fórmula de compasso 9/4:
Número inferior 4: a duração da divisão de cada pulso é a semínima.
Número superior 9: a duração total de cada compasso equivale a 9 semínimas.
Como existem 9 semínimas num compasso, existem 3 pulsos (9 ÷ 3 = 3) e, portanto, a métrica é ternária.
Duração de cada pulso, se existem 9 semínimas num compasso, e três pulsos, cada pulso tem a duração de 3 semínimas, que equivale a uma mínima pontuada.
Consequentemente, nos compassos simples a duração de cada pulso, ou tempo, é representado por uma figura rítmica simples e, nos compassos compostos, a duração de cada pulso é representado por uma figura rítmica pontuada.
Exemplos de vocabulário português e inglês:
2/4 Fórmula de compasso que indica um compasso duplo simples. Em inglês: Time signature that shows a simple duple meter.
4/4 Fórmula de compasso que indica um compasso quaternário simples. Em inglês: Time signature that shows a simple quadruple meter.
6/8 Fórmula de compasso que indica um compasso duplo composto. Em inglês: Time signature that shows a compound duple meter.
De modo a internalizar o posicionamento dos pulsos num compasso, estes podem ser representados fisicamente através de uma série de movimentos realizados com a mão. Este movimento pode ser realizado do seguinte modo:
Compasso binário: o primeiro tempo (forte) é marcado em baixo e o segundo em cima (fraco).
Compasso ternário: o primeiro tempo em baixo (forte), o segundo fora (fraco) e o terceiro em cima (fraco).
Compasso quaternário: o primeiro tempo em baixo (forte), o segundo dentro (fraco), o terceiro fora (meio-forte) e o quarto em cima (fraco).